Evento realizado pela Fecomércio-RS, em Porto Alegre, abordou inteligência artificial, o comportamento da “Geração Z” e a conexão entre lojas físicas e digitais.
Cerca de 150 pessoas, entre empreendedores e colaboradores de empresas do varejo de diferentes segmentos e partes do Rio Grande do Sul, estiveram presentes no “Pós-NRF”, evento realizado pela Fecomércio-RS em sua sede, em Porto Alegre, na manhã desta terça-feira, 06 de fevereiro. O objetivo do encontro foi difundir os ensinamentos e experiências angariados pela comitiva da entidade empresarial que, no mês passado, participou da NRF Retail’s Big Show, em Nova York, a mais importante feira de varejo e consumo do mundo. A proposta foi ressaltar como as principais e mais atuais tendências do setor podem ser aplicadas nos negócios gaúchos, independentemente de seu porte. Temas como inteligência artificial, o olhar atento para a “Geração Z” e a conexão entre lojas físicas e digitais foram destaques.
“Os dirigentes da Federação que participaram da NRF foram olhos e ouvidos dos empresários gaúchos nessa missão, o que corrobora o protagonismo da Fecomércio do Rio Grande do Sul em entender a importância da inovação e de buscar conexão com o que é tendência e sucesso entre gestores, estrategistas e pensadores americanos”, destacou o presidente do Sistema Fecomércio-RS/Sesc/Senac, Luiz Carlos Bohn. “São os destaques e detalhes trazidos dessa experiência que fazem a diferença entre o sucesso ou fracasso na hora das vendas e de fechar bons negócios”, reforçou.
O evento iniciou com palestra do coordenador estadual de varejo do Sebrae-RS, Fabiano Zortéa, um dos curadores de conteúdo e guia das visitas técnicas realizadas pelo grupo nos Estados Unidos. Ele abordou tendências globais para o varejo e o que precisa estar na mira dos empreendedores locais. A fala foi seguida por dois painéis, mediados pela jornalista Patrícia Comunello. O primeiro foi “Inteligência artificial aplicada ao varejo”, com a diretora administrativa da Fecomércio-RS, Maria Tereza Menegotto, a diretora do Senac Santa Maria, Paula Correa, e o diretor do Sesc Rio Grande e Chuí, André Miki. O segundo abordou “O poder da marca alinhado ao seu conceito”, com a vice-presidente da Fecomércio-RS e diretora do Sindilojas Caxias do Sul, Idalice Manchini, o também vice-presidente da Fecomércio-RS e presidente do Sindilojas Vale do Taquari, Giraldo Sandri, e a diretora do Senac Passo Fundo, Lisiane Martins.
É preciso um olhar mais atento à “Geração Z” na busca por clientes e colaboradores
Dentre os destaques trazidos por Fabiano Zortéa em sua palestra, com base na experiência na NRF, esteve o fato de que é preciso ter um olhar especial à chamada “Geração Z”, da faixa etária dos 14 aos 29 anos de idade, tanto como clientes quanto como potenciais colaboradores. “Essa é uma turma muito inquieta, que é multiplataforma e que busca fluidez no trabalho. Nós precisamos estudar sobre eles e, ao invés de conflitar com os seus costumes, encontrar pontos de intersecção e interesse comum”, apontou. E destacou comportamentos dos jovens a se prestar atenção, como o de viver com os pais por mais tempo, adiando casamento e filhos, e também a preocupação com a sustentabilidade.
O coordenador estadual de varejo do Sebrae-RS também fez menção à dificuldade de algumas lojas em encontrar mão de obra nessa faixa etária. “Talvez seja preciso ressignificar aquela atividade de vendedor para o que esse jovem está buscando. Muitos deles gostam de produzir conteúdo e se identificam como influenciadores digitais, por exemplo. As abordagens, para a contratação, precisam estar alinhadas ao que é valor para essas pessoas”, pontuou. Zortéa ressaltou, ainda, que a análise de quem é o cliente – e quem ainda pode ser – precisa levar em conta que, num contexto intergeracional, os comportamentos não são homogêneos. “Há pessoas mais maduras extremamente digitalizadas e pessoas jovens que valorizam experiências presenciais”, colocou.
80% dos varejistas irão usar inteligência artificial até 2026
O tema que tomou grande parte da NRF e também do evento nesta terça-feira foi a inteligência artificial (IA) e como ela pode ser aplicada nos negócios. “A IA já existe há muito tempo, mas o diferencial agora é que o feedback dela é muito mais personalizado e individualizado”, comentou a diretora administrativa da Fecomércio-RS, Maria Tereza Menegotto. A empresária contou que já utiliza o ChatGPT em sua empresa para a elaboração de contratos. “Assim, estamos ganhando em produtividade e tempo. Não adianta lutarmos contra essa tecnologia, nós temos que saber utilizá-la”, reforçou. Dados divulgados na NRF apontam que 80% dos varejistas vão usar inteligência artificial até 2026.
Os riscos do uso dessas ferramentas para práticas como as “deep-fakes” e a necessidade de regulamentação são preocupações no mundo todo. Contudo, foi constatado no evento, que é consenso que a tecnologia veio para ficar e que, usada com responsabilidade, tem grande potencial. “É um auxílio que está aí, com opções gratuitas, e que está se oferecendo de forma muito contundente para melhorar os nossos negócios”, opinou Zortéa. Ele ainda citou aplicações desde as mais simples, como textos em rede sociais, até as mais complexas, como câmeras que sinalizam aos clientes se eles estão esquecendo de comprar itens usuais ou, ainda, e-commerces intuitivos que dialogam com os consumidores de acordo com suas preferências.
A loja física continua forte
A missão apontou que não há risco de a loja física ser extinta, como esperava-se no passado com a popularização das lojas digitais. Contudo, a feira ensinou que é preciso repensar o presencial, focando na experiência do consumidor. Pesquisas apresentadas no evento apontam que os clientes têm se deslocado às lojas, principalmente, para testar, retirar e devolver produtos, ou aproveitar promoções. Esses estudos destacam o valor da “experiência presencial”, da “vibe” da loja, da descoberta de algo novo e de bons vendedores. “O problema é achar operações que entregam isso”, alertou Zortéa.
Nos Estados Unidos, a comitiva visitou, por exemplo, a loja dos cristais Swarovski, que cria uma experiência sensorial aos clientes, promovendo uma desaceleração da corrida do dia a dia. Para a vice-presidente da Federação, Idalice Manchini, a lição é a de oferecer uma conexão, algo a mais que, de acordo com as condições e a proposta do empreendimento, faça o consumidor querer voltar ao atendimento presencial, mesmo tendo a opção do digital. “Por vezes, é um serviço que pode ser agregado, para o cliente ter na loja um suporte que o socorra em algum momento. Se ele encontrar em uma loja de roupas o serviço de uma costureira, por exemplo, isso pode fazer toda a diferença e possibilitar que ele fique mais tempo dentro do local”, exemplificou, citando, também, outros atrativos simples, mas eficazes, como estacionamento e a oferta de café, por exemplo.
Reconhecendo a importância de pensar no digital, através de redes sociais ou sites, o também vice-presidente da Fecomércio-RS, Giraldo Sandri, reforçou como, mesmo em meio às tecnologias, as conexões humanas são primordiais em qualquer parte do mundo. “Eu percebo que as lojas físicas não vão parar nunca. Elas vão seguir em crescimento com um atendimento bom e mais humano”, sublinhou. Dados divulgados na NRF apontam que consumidores “phygitais” (que utilizam o meio físico e digital para fazer suas compras) gastam de 15 a 30% a mais do que os clientes que têm contato com a loja em apenas um canal. Por isso, a importância das marcas se esforçarem para o sucesso em gerar uma experiência de venda alinhada entre o ambiente físico e o digital.
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